sábado, 4 de fevereiro de 2017

CASARÕES DO CEARÁ-MIRIM


CASA GRANDE DO ENGENHO SÃO FRANCISCO










Por ACLA
A casa do Barão de Ceará-Mirim também conhecida como a casa do engenho São Francisco, foi construída na segunda metade do século XIX, mais precisamente no ano de 1857, conforme inscrição existente na sua fachada principal, um costume muito usado à época, para demonstrar o poder de quem construiu, permanecendo-se através do tempo. Muitas dessas numerações/inscrições eram apostas em azulejos portugueses, outras tantas caracterizadas em algarismos romanos.
Importante lembrar que o responsável pela construção do imóvel, ou seja, a casa grande do engenho, foi o Coronel Manuel Varela do Nascimento, posteriormente nominado de “Barão de Ceará-Mirim”. Sua trajetória se inicia como um pequeno agricultor, cuja atividade principal era o plantio da cana-de-açúcar em terras do seu pequeno engenho movido à tração de animais e mão de obra escrava; estava localizado na “Ilha dos Cavalos”, lugar pertencente a uma tribo indígena liderada por um chefe de nome Saquete. A história sobre o engenho, não fala sobre a posse dessas terras, antes pertencentes a referida tribo. 
A casa grande do Engenho São Francisco era uma das mais suntuosas do vale, podendo ser igualada em importância às dos engenhos Guaporé, Umburanas, Cruzeiro, Timbó e Carnaubal, todas com sua grandiosidade guardando os seus segredos e as marcas de uma época áurea da cana-de-açúcar. A referida casa, foi construída com dois pavimentos de tipo assobradada, com muitos detalhes arquitetônicos que ainda a embelezam apesar das intempéries; vale salientar a grande e pesada porta de madeira de lei que dá acesso ao primeiro piso e leva à escadaria para o andar superior. Essa porta de acesso está ladeada por 07 (sete) janelas com arcos, e na parte superior existem outras na mesma quantidade, com uma única diferença: as do andar de cima possuem como proteção uma grade de ferro toda trabalhada.
Com o passar dos anos, o prédio foi sofrendo várias intervenções que foram descaracterizando sua estrutura em várias partes, principalmente na área externa, citando como exemplo, a retirada dos azulejos antigos que foram trazidos da cidade do Porto, em Portugal e que em uma das reformas foi totalmente retirado. Essa cerâmica que revestia as paredes externas da casa grande foi colocada ainda na época da sua construção.
Já na parte interna, quase nada foi modificado, as pequenas adaptações que sofreu foram para adequar os compartimentos ao bom funcionamento do escritório da então Usina São Francisco e ainda hoje, conserva o seu assoalho de madeira no pavimento superior e a escada que dá acesso com seu belo corrimão bem trabalhado.
Existia na sala de estar ou “Sala de Honra”, as fotos do barão e da baronesa de Ceará-Mirim, infelizmente esses objetos e móveis que faziam parte importante do mobiliário da casa grande do engenho São Francisco, foram retirados do imóvel desfalcando seu mobiliário, assim como um importante acervo cultural e patrimonial da história da cidade. 
Além disso, o belo portão em ferro fundido, todo trabalhado e trazido de Portugal, foi retirado do prédio antigo para ser instalado no muro da nova construção que foi erigida ao lado do casarão. Na realidade fica muito difícil entender o complexo da modernidade que destrói a história apagando vultos importantes em nome do “progresso”. E pertinente se faz, lembrar o Velho Continente que saqueou o Novo Continente e com a rapinagem construiu sua história de riqueza e pompa, não importando para aqueles que bancaram o festim do genocídio dos povos ameríndios. Hoje é o maior palco de visitação turística, divisa e renda para a sociedade europeia por terem sabido conservar cada palácio, igrejas, cemitérios, escolas, universidades seculares e tantos mais marcos históricos que souberam cuidar, conservar e mantê-los.
Por capricho e benevolência do tempo que não para, ainda sobrevive em estado de penúria na propriedade da extinta Usina São Francisco, uma capelinha dedicada à Nossa Senhora da Conceição e um pequeno cemitério que abriga um jazigo que guarda os restos mortais do barão e da baronesa, ladeado por outros de sua família.
Esse cemitério foi doado à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição pelos herdeiros, senador Luiz Lopes Varela e sua esposa Antonieta Varela, em documento registrado no cartório de Ceará-Mirim, tendo como recebedor o Monsenhor Celso Cicco.
Apesar do abandono e da falta de interesse do poder público municipal em suas mais variadas gestões e demais organismos preservadores da cultura e do patrimônio histórico local e estadual, pode-se dizer que o casarão do barão ainda pode ser considerado conservado, todavia pede socorro, necessitando claro de uma restauração emergente, evitando assim, transformar-se em mais uma ruína, em mais lamentos dos que diariamente convivem com o descaso e o alheamento da história passada, do presente e do futuro. 
Uma realidade lastimável.


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