Além de
contradições e fragilidades da acusação, a fonte Davincci Lourenço de Almeida
veio do Ministério Público de São Paulo, com o promotor José Carlos Blat - o
que pediu a prisão de Lula e brigou com Lava Jato do Paraná.
Jornal GGN - "O personagem que estampa a capa desta
edição de ISTOÉ chama-se Davincci Lourenço de Almeida. Entre 2011 e 2012, ele
privou da intimidade da cúpula de uma das maiores empreiteiras do País, a
Camargo Corrêa", introduz a revista na apresentação de sua fonte do
suposto "furo" que manchetou: "Levei mala de dinheiro para
Lula".
Foi descrito pela publicação como uma
pessoa próxima da família do ex-presidente da construtora, Dalton Avancini. Mas
a revista, que ganhou o contato pelo promotor José Carlos Blat, do Ministério
Público de São Paulo, revelou apenas partes recortadas do suposto furo e evitou
aprofundar quem é Davincci Lourenço de Almeida.
Ressalta-se, antes, que o promotor
que passou os contatos da fonte à IstoÉ é o mesmo que comandou a primeira
investigação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do
triplex do Guarujá, e apresentou uma denúncia com pedido de prisão contra Lula,
em março do ano passado, em uma peça sem sustentação e com graves erros,
duramente criticada por juristas e, inclusive, pelos procuradores da Lava Jato
do Paraná.
Desde que o caso foi remetido à Vara
Federal de Curitiba, os promotores (José Carlos Blat, juntamente com Cássio
Conserino e Fernando Henrique Araújo) iniciaram uma briga judicial e na
imprensa sobre a quem competiam as investigações. Ainda, o colega de José
Carlos Blat, Conserino é fonte timbrada da revista Veja, adiantando à
publicação tudo o que considera furo.
Quando o caso foi remetido ao Paraná,
não restou aos promotores outra opção que não o envio dos depoimentos já feitos
sobre o triplex do Guarujá para a Vara Federal de Curitiba. Entre eles, estava
o de Davincci Lourenço de Almeida.
A IstoÉ tampouco mantém precaução, ao
informar que foi o mesmo Blat o intermediador deste "furo",
escrevendo que o promotor ouviu Davincci em quatro oportundades. "Blat
encaminhou os depoimentos à força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba. À
ISTOÉ, o promotor disse acreditar que a Camargo Corrêa possa ter usado Davincci
como 'laranja'", diz a publicação.
Exposto o intermediário desse
"vazamento", é a vez de indicar a entrevista de Davincci Lourenço de
Almeida, químico sem formação. Diz ser "sócio de um ex-acionista da
Camargo Correa", que inclusive já foi morto há cinco anos. Foi ouvido
pelos promotores do MPSP para falar da Camargo Correa, e a corrupção envolvendo
oficiais das Forças Armadas.
A constatação é dos vários vídeos que
a própria fonte já publicou no Youtube. Em nenhum deles, fez a relação com o
ex-presidente Lula. Mencionou "conspiração" e "quadrilha"
das Forças Armadas que, a seu ver, ajudavam a Camargo Correa a lavar dinheiro.
A afirmação à revista de que ele
levou uma mala de dinheiro para Lula veio apenas após três entrevistas
concedidas. O vídeo final apresentado pela IstoÉ é uma mistura de trechos. Em um
primeiro momento por telefone a repórteres e, em seguida, aparentemente
presencialmente, quando a revista tentou tirar mais informações da menção ao
ex-presidente.
Em determinado momento, a fonte diz
que iria acusar "todo mundo":
"O ex-presidente Lula
participou. Recebia dinheiro dentro da Morro Vermelho. Eu vou pôr no c... de
todo mundo também, entendeu? Mataram o Fernando (de Arruda Botelho, acionista
da Camargo Corrêa), estou fazendo isso porque ninguém faz nada. Ninguém faz
p... nenhuma. Colocaram esse brigadeiro... O brigadeiro Edgar foi expulso da
Camargo Corrêa. Fernando Botelho expulsou ele, quando descobriu que ele estava
com essa quadrilha na fazenda, desviando milhões junto com esses brigadeiros aí
e até um general. Então por isso que ele expulsou essa cambada da fazenda e do
resort. Entrava dinheiro de propina e quem pagava era Rosana Camargo de Arruda
Botelho. Ela que dava o dinheiro, cara, tá?", disse.
"Pegaram o Dalton Avancini,
prenderam o cara e falaram que os acionistas não têm conhecimento do dinheiro
das propinas. Tem conhecimento sim. O clube das empreiteiras... eles fazem a
divisão do dinheiro. Os hangares que foram feitos para a Camargo Corrêa dentro
do Bro (Broa Fry-in) e do resort que foram até os brigadeiros, coronéis e generais
que inauguraram em Itirapina, São Carlos. Estão tudo envolvido".
Entretanto, a revista ignora a
tentativa de denúncia, também não comprovada, sobre a atuação das Forças
Armadas neste caso. E questiona, insistentemente, o suposto envolvimento de
Lula. De forma generalizada, respondeu: "O Fernando falou que era só para
deixar lá a mala". "Mas o Lula foi lá buscar o dinheiro?",
questiona o repórter. "Foi lá buscar, O Lula foi. Tem foto dele lá".
"Mas qual que é a história, você levou uma mala de dinheiro lá no Morro
Vermelho?", insistiu outro repórter.
"Eu que levei", respondeu,
continuando: "Entreguei na mão do Willinha, diretor da Morro
Vermelho". Terminando neste ponto o áudio, a revista insistiu, por mais
uma vez em outra ocasião, como se pode verificar no áudio recortado: "Essa
mala de dólar que você entregou para o William foi entregue para o Lula na
sequência...". "A ordem do Fernando era para entregar para o presidente",
disse a fonte, em afirmação diversa.
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