“No processo de produção
social de sua existência os homens entram em relações determinadas, necessárias
e independentes de sua vontade”. Este trecho, extraído de
uma das obras do pensador alemão Karl Marx, Contribuição
à Crítica da Economia Política, nunca esteve tão presente em nossa
realidade social. O contexto no qual o autor trata a questão se refere à sua
abordagem sobre a concepção materialista da história, em que ele nos indica que
o aspecto econômico das relações entre os homens definiria outros aspectos da
vida em sociedade, incluindo nesta análise os aspectos políticos, jurídicos e
sociais. É curioso pensar sobre isto, pois embora Marx trate especificamente
das implicações de um modelo de produção concebido entre os homens, há um
sentido pelo qual quero tratar nesta oportunidade, ou seja, como a preocupação
com o material tem prevalecido em nossas vidas. Temos sido reféns de uma
sociedade voltada ao materialismo exacerbado, e que em nome disto fazemos as
mais incríveis manobras, quer sejam no âmbito material, que seja no âmbito
público (quase sempre de forma irregular) para atingir determinados fins. É
incrível como somos seduzidos pelo material, por aquilo que nos dá prazer, por
aquilo que nos traz “status”. Cumpre destacar que esta não é uma característica
presente apenas no mundo contemporâneo, na época de Cristo víamos manifestações
demasiadamente materialistas por alguns de seus seguidores, conforme podemos
ver no livro de Lucas, capitulo 12, no qual Cristo adverte ao povo: “Acautelai-vos
de toda espécie de cobiça, pois a vida de um homem não consiste na abundância
das coisas que possui” (Lc 12:15). Certamente Cristo já nos mostrava
que uma das características que teríamos neste sistema capitalista selvagem que
vivemos seria a preocupação excessiva com o que se possui e com o que quer
aparentar que possui. Infelizmente, somos contemporâneos de uma época em que o
caráter, a sinceridade, a honestidade e a transparência nas relações estão
sendo esquecidos em nome de uma suposta necessidade material imposta a todos
nós de forma exterior, conforme a interpretação “durkheimiana” do termo, um
fato social como produto de uma sociedade. Fazemos as mais esdrúxulas
peripécias no orçamento para adquirir um celular de última geração, mas quando
nos familiarizamos com a aquisição percebemos que se trata apenas de um objeto
de consumo, que a despeito de nos trazer uma euforia efêmera em possuí-lo ou em
expô-lo aos outros, não nos proporciona uma realização permanente e concreta. Marx
foi genial ao perceber uma acentuada inclinação dos homens ao material
estimulado por um modelo capitalista de produção, o qual indicava que isto
poderia levar o próprio homem a um colapso enquanto sociedade, na medida em que
as forças produtivas chocariam com as relações de produção fazendo emergir uma
nova sociedade, nada mais dialético. O fato é que Marx desprezou aspectos
importantes da vida humana ao reduzir a complexidade do homem a apenas o
caráter econômico das relações. Como compreender um ser tão complexo como o ser
humano somente sob esta perspectiva? Que possamos entender que nossa vida não
se restringe tão simplesmente à nossa capacidade de conquistar riquezas. Que
nutramos em nós um sentimento de vida abundante trazido por Cristo em sua passagem
terrena, que não consiste na abundância de coisas materiais, pois se assim o
fosse seria o mais rico dos homens, mas sob uma perspectiva de caráter, de
altruísmo e de caridade em Cristo Jesus.
Que
Deus nos abençoe mais e mais.
Até a próxima!
Por: Diácono Kelvin Praxedes
Membro da Igreja Evangélica Bom Retiro em Ceará-Mirim
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