domingo, 8 de janeiro de 2017

Uma sociedade materialista


“No processo de produção social de sua existência os homens entram em relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade”. Este trecho, extraído de uma das obras do pensador alemão Karl Marx, Contribuição à Crítica da Economia Política, nunca esteve tão presente em nossa realidade social. O contexto no qual o autor trata a questão se refere à sua abordagem sobre a concepção materialista da história, em que ele nos indica que o aspecto econômico das relações entre os homens definiria outros aspectos da vida em sociedade, incluindo nesta análise os aspectos políticos, jurídicos e sociais. É curioso pensar sobre isto, pois embora Marx trate especificamente das implicações de um modelo de produção concebido entre os homens, há um sentido pelo qual quero tratar nesta oportunidade, ou seja, como a preocupação com o material tem prevalecido em nossas vidas. Temos sido reféns de uma sociedade voltada ao materialismo exacerbado, e que em nome disto fazemos as mais incríveis manobras, quer sejam no âmbito material, que seja no âmbito público (quase sempre de forma irregular) para atingir determinados fins. É incrível como somos seduzidos pelo material, por aquilo que nos dá prazer, por aquilo que nos traz “status”. Cumpre destacar que esta não é uma característica presente apenas no mundo contemporâneo, na época de Cristo víamos manifestações demasiadamente materialistas por alguns de seus seguidores, conforme podemos ver no livro de Lucas, capitulo 12, no qual Cristo adverte ao povo: “Acautelai-vos de toda espécie de cobiça, pois a vida de um homem não consiste na abundância das coisas que possui” (Lc 12:15). Certamente Cristo já nos mostrava que uma das características que teríamos neste sistema capitalista selvagem que vivemos seria a preocupação excessiva com o que se possui e com o que quer aparentar que possui. Infelizmente, somos contemporâneos de uma época em que o caráter, a sinceridade, a honestidade e a transparência nas relações estão sendo esquecidos em nome de uma suposta necessidade material imposta a todos nós de forma exterior, conforme a interpretação “durkheimiana” do termo, um fato social como produto de uma sociedade. Fazemos as mais esdrúxulas peripécias no orçamento para adquirir um celular de última geração, mas quando nos familiarizamos com a aquisição percebemos que se trata apenas de um objeto de consumo, que a despeito de nos trazer uma euforia efêmera em possuí-lo ou em expô-lo aos outros, não nos proporciona uma realização permanente e concreta. Marx foi genial ao perceber uma acentuada inclinação dos homens ao material estimulado por um modelo capitalista de produção, o qual indicava que isto poderia levar o próprio homem a um colapso enquanto sociedade, na medida em que as forças produtivas chocariam com as relações de produção fazendo emergir uma nova sociedade, nada mais dialético. O fato é que Marx desprezou aspectos importantes da vida humana ao reduzir a complexidade do homem a apenas o caráter econômico das relações. Como compreender um ser tão complexo como o ser humano somente sob esta perspectiva? Que possamos entender que nossa vida não se restringe tão simplesmente à nossa capacidade de conquistar riquezas. Que nutramos em nós um sentimento de vida abundante trazido por Cristo em sua passagem terrena, que não consiste na abundância de coisas materiais, pois se assim o fosse seria o mais rico dos homens, mas sob uma perspectiva de caráter, de altruísmo e de caridade em Cristo Jesus. 

Que Deus nos abençoe mais e mais. 

Até a próxima!

Por: Diácono Kelvin Praxedes
Membro da Igreja Evangélica Bom Retiro em Ceará-Mirim

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