segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Para permanecer na Williams, Felipe Massa impôs algumas condições



Quando alguém diz ter duas notícias para nos dar, uma ruim e uma boa, em geral pedimos para ouvir a má primeiro. Sigamos, pois, a tradição. Nesta segunda-feira o Brasil ficou sabendo o já era esperado: Felipe Nasr perdeu o lugar na Sauber para o alemão Pascal Wehrein. Sua chance de manter-se na F1 depende, agora, de a equipe Manor encontrar um comprador de última hora, sobreviver, e Nasr, do seu lado, obter um patrocinador importante. Um grande desafio.
Mas se as chances de Nasr seguir na F1 são pequenas, a boa notícia foi a confirmação de Felipe Massa pela Williams, também nesta segunda-feira. O piloto havia tido uma despedida da F1 no ano passado, em Interlagos e em Abu Dhabi, como a competição nunca vira antes, de tão carinhosa. Mas o surpreendente abandono da F1 do campeão do mundo, Nico Rosberg, impôs uma nova realidade no mercado de pilotos.
“Recebi uma ligação da Claire Williams perguntando se eu não gostaria de seguir na Williams”, disse Massa. “Como eu expliquei que estava deixando a F1 apenas por não dispor de um bom time e o convite da Claire representava uma mudança desse cenário, não foi difícil entrarmos de acordo".
O que nem todos se deram conta foi a condição de Massa ao assinar, agora, com a Williams. Estava numa posição que o permitiu fazer algumas exigências, ou pelo menos ser ouvido com muita atenção. Claire e seu diretor geral, Mike O'Driscoll, não dispunham de um piloto experiente para liderar o grupo, ainda mais essencial para a Williams em razão de o outro contratado ser o canadense Lance Stroll, de apenas 18 anos, completados dia 29 de outubro. E tudo isso num campeonato de mudança conceitual do regulamento.
Massa pôde, por exemplo, tocar num ponto bastante comentado dentre os integrantes da Williams, mas nunca encarado de frente pela direção: a necessidade de reforçar o departamento de projeto. Ed Wood, desenhista-chefe, e Jason Somerville, aerodinamicista, são há anos os responsáveis pelos carros da Williams. E com todos os atenuantes que alegam ter, como o orçamento limitado da escuderia, é também verdade que seus projetos nunca encantaram. Ao contrário, suas limitações ficam logo expostas.

Ao defender a contratação de novos engenheiros para o setor, Massa caminhou lado a lado com o pensamento de parte importante dos integrantes da Williams. Obviamente não foi apenas a visão experiente de Massa, que já trabalhou com o grupo vencedor liderado por Ross Brawn, na Ferrari, mas a de outros profissionais do time também que fez com que Claire e O'Driscoll mexessem no setor.
REESTRUTURAÇÃO EM CURSO

O modelo deste ano está praticamente pronto, FW39-Mercedes, coordenado por Wood e Somerville, mas o seu desenvolvimento, em especial o aerodinâmico, não será realizado por Somerville. São boas as possibilidades de a Williams contratar Dick de Beer, ex-Lotus e Ferrari, engenheiro sempre ligado ao competente James Allison, dispensado por Sergio Marchionne, presidente da Ferrari, em julho de 2016, para a alegria dos concorrentes.

Allison deve ir para a Mercedes, pois seu diretor técnico até o fim do ano passado, o capaz Paddy Lowe, deixou a organização tricampeã do mundo. Toto Wolff, sócio e diretor da equipe Mercedes, não concordou com os valores exigidos por Lowe para renovar e o engenheiro inglês se sentiu desprestigiado, depois do sucesso extraordinário nos três últimos anos, campeões em tudo.
Dirk de Beer não teria espaço na Mercedes para seguir Allison. O grupo sob a chefia de Geoff Willys desenvolve para Wolff notável trabalho de aerodinâmica, daí o engenheiro sul-africano poder ser o novo reforço da Williams.
Ao mesmo tempo em que a Williams anunciou a permanência de Massa, agora ao lado de Stroll, a Mercedes oficializou a contratação de Valtteri Bottas como o novo companheiro de Lewis Hamilton. Bottas deixou a Williams depois de longo período de negociação entre Claire, O'Driscoll e Wolff.
Por estar com a faca e o queijo na mão, a dupla de diretores da Williams impôs condições a Wollf para liberar Bottas. Elas visam a beneficiar muito sua organização. Como o diretor da Mercedes não tinha nenhum piloto talentoso e experiente para substituir Rosberg – Bottas representava a escolha ideal para as circunstâncias -, não lhe restou outra saída a não ser concordar.
MOTOR DE GRAÇA PARA TER BOTTAS
Para começar a conversa, Claire e O'Driscoll fecharam questão quanto ao valor a ser pago a Mercedes pelo fornecimento da unidade motriz: zero. Em vez de recolher para a montadora alemã os regulares 16 milhões de euros (R$ 56 milhões), a Williams poderá investir esse dinheiro no desenvolvimento do modelo deste ano. O primeiro desconto proposto por Wolff foi de 5 milhões de euros (R$ 17 milhões), para se ter uma ideia do quanto a Mercedes teve de ceder.
Não acabou. Há um acordo entre os diretores de equipe na F1 de que quando um engenheiro do primeiro escalão assina com outra escuderia, é preciso esperar um ano antes de iniciar o trabalho na nova casa, o chamado “gardening”. Há bons indícios de que Claire e O' Driscoll também impuseram a Mercedes a liberação imediata de Lowe para reestruturar a sua área técnica. O atual diretor, Pat Symonds, de 63 anos, deve deixar a Williams e a F1 no fim da temporada. Lowe, no entanto, não foi oficializado, bem como Dirk de Beer.
A procura por Massa também correspondeu a essa exigência do momento da Williams, a necessidade de lançar o time em outro patamar quanto à capacidade de produzir projetos potencialmente vencedores. A liderança do piloto de 35 anos, 250 GPs de experiência, oito deles na Ferrari, quando foi campeã do mundo, em 2007, com Kimi Raikkonen, e vice, em 2008, com ele próprio, serão muito úteis para a Williams conquistar seus novos objetivos, bem mais ambiciosos.
ORÇAMENTO BEM SUPERIOR AO DE 2016
Dinheiro não vai faltar. Além da importante economia com o não pagamento da unidade motriz, Claire e O”Driscoll vão receber de Stroll a bagatela de 30 milhões de euros (R$ 105 milhões), segundo se comenta e muito provavelmente proceder. Seria o valor do contrato de patrocínio do campeão europeu de F3 e a Williams. Só com esses dois negócios a Williams irá dispor de 46 milhões de euros (R$ 160 milhões) a mais no orçamento que em 2016.
Apesar do bom orçamento este ano, a expectativa da Williams pelo campeonato previsto para começar dia 26 de março em Melbourne, na Austrália, não é das maiores. Claire, O'Driscoll e, salvo surpresa, Lowe, estão fazendo apostas mais elevadas para 2018, o segundo do novo regulamento, quando um novo grupo de engenheiros irá projetar o carro da escuderia, em processo de reestruturação técnica.
Dia 27 de fevereiro, no Circuito da Catalunha, o modelo FW39-Mercedes da Williams irá pela primeira vez à pista, abertura dos testes de pré-temporada. Serão apenas oito dias. De 27 de fevereiro a 2 de março e depois de 7 a 10, também em Barcelona.
Com o chassi e pneus mais largos e unidades motrizes com cerca de 30 cavalos a mais de potência, já no início do ano, acredita-se que os modelos de 2017 serão algo entre quatro e cinco segundos mais velozes já nas primeiras etapas. Trata-se de um desafio novo para os pilotos, mais ainda para um jovem como Stroll. É por isso que ele completou até agora cerca de 5 mil quilômetros de testes com o modelo de F1 da Williams de 2014, permitido pelo regulamento. O último foi em Sepang, na Malásia, na semana passada.
Fonte: globoesporte.com

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